12.26.2007

Melhor da música em 2007

Assim começa a temporada de listas de final de ano. Primeiro com as músicas, depois os melhores episódios da tv, e na semana que vem os melhores filmes. É um simples exercício de caráter pessoal, nem sempre para ser levado a sério. Basta comparar com suas próprias escolhas, além de concordar ou discordar.
Preciso dizer que 2007 foi um ano muito bom para a música em geral que talvez, nessa década, só perca para 2002. Tivemos um volume grande de discos bons e ótimos e, embora nenhum deles possa ser considerado obra-prima, fizeram um ano bastante agradável para mim. A única coisa que senti falta foi alguma nova banda que parecesse promissora (Battles? não), o que foi recompensado por alguns artistas terem vencido a "maldição do segundo álbum" (Arctic Monkeys, Arcade Fire, M.I.A., etc.). Num ano tão bom assim, até me anima fazer um top 50 de álbuns, mas falta tempo para escutar e escrever sobre. Então, fique com as listinhas de praxe mesmo.

10 ÁLBUNS

1.
Night Falls Over Kortedala

Jens Lekman




Nem é preciso exaltar as qualidades de Jens Lekman ao escrever letras. Mas o que realmente chama a atenção nesse disco é a sua sonoridade, dessa vez unindo samplers do melhor e do pior nas décadas de 50, 60 e 70. São canções falando sobre o amor sejam em decepções, encontros, quebra de promessas ou na sua mais tímida forma. Tudo isso em tom de nostalgia, relembrando os bons momentos e tentando aprender com as feridas restantes.


2.
Sound of Silver

LCD Soundsystem




Aparentemente o som disco-punk de James Murphy e sua banda sofreu poucas mudanças desde sua estréia. O grande diferencial é que as canções são todas construídas em cima de surpreendentes letras compostas por Murphy. O disco chega ao ápice com a dupla "Someone Great" e "All My Friends". A primeira mostrando uma ironia enorme com o conformismo diante de uma perda, e a segunda com um arrependimento que pouco a pouco vai assumindo um positivismo pelo futuro. E tudo isso com melodias mínimas, que evoluem a uma grandiosidade incrível.


3.
Kala

M.I.A.




Ouvir esse disco parece sentir que todas as vozes do mundo tentam se comunicar através de uma só. Maya mais uma vez apresenta ritmos exóticos, trazendo como influência até músicas de Bollywood, coisa que eu só havia ouvido em vídeos do Prabhu Deva ou num filme estrelando o Sayid. O que impressiona é a sua confiança ao misturar todas essas influências, desde a dance music dos anos 90 até utilizando samplers dos Pixies e do Clash. Levando a mensagem de democracia no Terceiro Mundo, Maya parece uma das poucas artistas a preocupar-se com o lema "pensar global, agir local". Definitivamente é uma voz para ser ouvida.


4.
Boxer

The National




Depois de aceitar o irresistível convite feito na voz embriagada de Matt Berninger já nos primeiros versos de "Fake Empire", é difícil de não acabar cativado por esse álbum. Num primeiro olhar, o som parece carregado de uma atitude máscula, principalmente pelo trabalho de Bryan Devendorf na bateria, e suas seqüências marcadas. Mas é só ter mais atenção e perceber que tudo isso não passa de um confronto diante da melancólica alienação urbana.


5.
From Here We Go Sublime

The Field




Como definir o sublime? Essa pergunta pode ser ainda mais difícil de responder com a unidade desse álbum. Mesmo com algumas músicas que funcionariam como single, a grande força desse trabalho de Axel Willner é a sensação agradável ao ouvir todas essas faixas semelhantes lado a lado. E a cada nova audição, várias vezes me indaguei como não havia percebido uma ou outra oscilação nesse todo harmônico. Talvez o sublime esteja exatamente nisso: descobrir os pequenos detalhes que consigam provocar tantos sentimentos ímpares.


6.
Neon Bible

Arcade Fire




Devo confessar que uma das minhas poucas espectativas para esse ano ficava em torno do novo trabalho do Arcade Fire. Mesmo que o disco não consiga ter o impacto da estréia da banda, não decepciona nessa busca pela re-afirmação. Tudo continua no mesmo lugar, com Win Butler indagando a Deus sobre sua situação, confrontando dogmas e, claro, fazendo seus paralelos com meios de transporte. E se Butler elevar sua voz já é o suficiente para nos dar aquele aperto interior, é o resto da banda que consegue fazer o som chegar a níveis apoteóticos, como se fosse possível emocionar-se ainda mais.


7.
Person Pitch

Panda Bear




Quem poderia imaginar que diante da simplicidade e de ritmos exóticos, resultassem tantos sentimentos? "Person Pitch" é um disco composto por confortáveis melodias, que com suas idas e vindas vão evocando uma espécie de mantra. Mas ao invés de buscar o desenvolvimento interior, vai além conduzindo a uma jornada. Numa mistura de contradições, sem sabermos se celebramos ou sentamos para refletir, o som parece intrigante e, ao mesmo tempo, familiar.


8.
In Rainbows

Radiohead




Libertar-se da pressão de sempre inovar não é nada fácil. Por isso, esse álbum talvez seja tão importante para o Radiohead, trazendo seu som de décadas numa forma mais acessível. Claro que ainda há a complexidade usual, mas ela encontra espaço para desenvolver-se em torno de canções simples e convidativas. Esse conflito acaba entrando no próprio álbum, com discussões sobre "voltar para onde começou" ou "não ter grandes idéias porque elas não acontecerão", adicionando ainda mais brilhantismo (e, perdoando o trocadilho, cor) às músicas.


9.
The Stage Names

Okkervil River




Talvez esse seja o disco mais irônico do ano, e por isso merece um lugar nessa lista. Criticando a cultura do "espetáculo", seja ao montar uma banda, seja transformando a vida numa película de cinema, as músicas vêm carregadas de referências a outros artistas. Para fechar o álbum, "John Allyn Smith" trata de uma mini-biografia do poeta John Berryman e o que levou a seu suicídio. Sim, a vida transformada em música. Para a piada ficar completa, só mesmo terminando com a eterna "Sloop John B".


10.

Justice




Lá se vão 10 anos do lançamento de "Homework", que redefiniu a dance music do final do século. A comparação é inevitável, e se é que se pode dizer assim, esse é o disco que o Daft Punk não conseguiu fazer esse ano. E isso é uma elogio e tanto. Além das músicas serem elaboradas, a grande diferença é que elas habitam aquela fina camada que as separa da dance music pura e descompromissada. Basta uma única audição para estar condenado a dançar.


25 CANÇÕES

1. LCD Soundsystem - "All My Friends"
2. Gui Boratto - "Beautiful Life"
3. M.I.A. - "Paper Planes"
4. Justice - "D.A.N.C.E."
5. Jens Lekman - "Kanske Ar Jag Kar I Dig"
6. Arcade Fire - "My Body is a Cage"
7. Menomena - "My My"
8. Radiohead - "Jigsaw Falling Into Place"
9. Kanye West - "Can't Tell Me Nothing"
10. The National - "Mistaken for Stranger"
11. Panda Bear - "Bros"
12. Wilco - "Either Way"
13. LCD Soundsystem - "Someone Great"
14. The White Stripes - "You Don't Know What Love Is"
15. Jens Lekman - "A Postcard to Nina"
16. Simian Mobile Disco - "It's the Beat"
17. Arcade Fire - "Intervention"
18. Iron & Wine - "House By The Sea"
19. Arctic Monkeys - "Fluorescent Adolescent"
20. M.I.A. - "Boyz"
21. Menomena - "Muscle'n Flo"
22. Radiohead - "House of Cards"
23. The Field - "Over The Ice"
24. Cibelle - "Green Grass"
25. The White Stripes - "Rag and Bone"
Ver as listas completas

0 comentários: