3.18.2009

Filmes em Março/2009

Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet. (Entre Les Murs, 2008)

O grande trunfo de Cantet é nunca definir seu filme como documentário ou ficção, já que toda a história dentro da escola é carregada de espontaneidade. Às vezes aparecem até improvisos por parte do elenco, composto por adolescentes fazendo o papel deles mesmos, sem aquela mania de querer transformá-los em adultos. O mais interessante é que começamos o ano letivo sem saber exatamente quem são esses alunos e a medida que as aulas vão e vem, vamos ficando mais íntimos de cada um deles. Tudo isso é mostrado sob a visão do professor de francês François (o próprio autor do livro), que é um dos poucos a tentar compreender esses adolescentes, mostrando até um excesso de compaixão. Durante as aulas são levantadas diversas questões que além de despertar o interesse de educadores, servem também como um microcosmo da situação do próprio país. Mas essa discussão nunca chega a conclusão alguma, deixando espaço para o próprio espectador (como um dos alunos) pensar.
O ato ingênuo do professor, que desperta a fúria de todos os alunos, mostra o quanto ele também não é infalível e tem até dificuldades quando está encurralado no pátio. Fica a impressão de que dentro dessa escola, todo mundo tem ainda algo o que aprender. A conclusão só é falha exatamente por tentar trangredir esses limites, adicionando um desnecessário drama ao considerar que Souleymane, se fosse expulso, poderia ser mandado de volta para Mali por seus pais. Parece até uma tentativa de sabotar seu próprio filme, mas que sinceramente não chega a tirar nenhum dos méritos do diretor.


Dúvida, de John Patrick Shanley. (Doubt, 2008)

Apesar de não gostar desse formato teatral, prefiro deixar isso de lado para analisar outros pontos do filme. O elenco realmente é o destaque, até pela história depender muito mais do que é falado do que é mostrado. O que acho mais irônico é somente na conclusão ser cogitada essa dúvida na freira Aloysius, que por todo o filme está dominada por esse modo de perseguição total. Não chega a ser uma descaracterização, mas se isso estivesse presente em todo o filme (como na personagem de Amy Adams), teria sido mais interessante. Mesma coisa acontece com o padre Flynn, interpretado pelo "bom demais" Phillip Seymour Hoffman, que para mim nunca chega a constituir uma ameaça para o garoto. Também acho uma pena que o dilema entre os dois personagens seja reduzido em seu final apenas a um choque entre uma visão moderna da Igreja e uma mais tradicional. E a única cena de Viola Davis é realmente muito boa, mas esse seu ato de concordância poderia ter sido melhor explorado pelo roteiro.


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