8.31.2009

Filmes em Julho-Agosto/2009

Se Beber, Não Case, de Todd Phillips. (The Hangover, 2009)

Se isso acontecesse numa série, com certeza estaria reclamando das situações absurdas que os amigos se encontram depois da noite de bebedeira, convenientes demais pra desenvolver qualquer outro tipo de história paralela. Mas aqui as coisas funcionam, com um roteiro bem redondinho e sabendo encerrar de forma digna o filme (é um alívio não levantarem polêmica com o carro destruído). Algumas piadas são inspiradas, outras já parecem datadas e até previsíveis, mas quer saber? Acho que dei mais risada nas fotos dos créditos finais do que em todo o filme, o que pra mim é um grande problema. Destaque para o sempre competente Ed Helms, que obviamente teve seu talento musical utilizado, e Galifianakis, que foi homenageado com a presença de Can't Tell Me Nothing do Kanye West na própria trilha sonora, com certeza um dos clipes mais bacanas do universo.


Arraste-me para o Inferno, de Sam Raimi. (Drag Me to Hell, 2009)

O uso excessivo de TODOS os tipos possíveis de efeitos sonoros para terror é bastante irritante, principalmente porque o que acaba se destacando mesmo são os momentos de silêncio. Sam Raimi acerta na direção nesses casos, sempre surpreendendo quando já espera-se um susto. Tem uma boa montagem também, mas não vai nada muito além de um bom filme de terror, com figuras macabras e rituais. A única coisa que achei completamente desnecessária é o longo confronto da moça com a bruxa, logo no começo. Pode até ser só alucinação, mas não precisava expor tanto desse jeito num primeiro momento. Todas as outras barbaridades são bastante legais, até a armadilha da bigorna. Fica aqui também a homenagem a todos os tufos de cabelo que a protagonista perdeu no decorrer da história.


Adventureland, de Greg Mottola. (Adventureland, 2009)

Mottola oferece um retrato dos anos 80 tão perfeito que muita gente já se esforça até em compará-lo ao saudoso John Hughes. O fato é que o diretor mostra uma grande evolução depois de seu último projeto, Superbad há dois anos atrás. Tudo acontece quando James tem de passar suas férias frustradas de verão trabalhando num daqueles divertidos parques de diversão da época e, recém saído do colégio, sente-se pela primeira vez livre. Obviamente que ele descobre o amor, e sensibilidade não falta para tratar desse romance no decorrer da história. Apesar de todos os personagens pedirem para ser adorados, o tratamento dado ao encontro de James e Em é o que faz movimentar o filme. Enquanto o protagonista vai conhecendo mais a garota, também somos apresentados pouco a pouco, mas sempre um passo à frente nessas descobertas. Isso dá um caráter de cumplicidade muito bacana, e mesmo que simpatizar com Em seja difícil para alguns, é possível perceber também a fragilidade da garota. E ainda que James tenha de eventualmente ser cruel para garantir o suspense final, a conclusão é muito justa. Pra quem viveu essa época, com certeza será um prazer relembrá-la aqui, na bela ambientação e trilha sonora.


Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes. (idem, 2008)

Tentei duas vezes assistir a esse filme na Mostra do ano passado. Ambas as sessões lotadas, durante a tarde e em dias úteis. Completo absurdo, só porque era o queridinho da crítica. Passado esse quase um ano, só tenho a dizer que pareceu valorizado demais. Concordo que transborde espontaneidade e tenha esse carinho todo especial com esses festivais portugueses do mês de agosto, mas a primeira parte sofre demais com essa lentidão. É verdade que o filme engrena quando dá lugar à narrativa, uma bela história de amor nesses cenários maravilhosos, mas toda essa preparação e descobrimento não chegaram a me conquistar. E olha que não tenho nada contra a música popular portuguesa. Até a cena final da discussão com o captador de som me pareceu forçada. Vale sim é pelo encontro do dois primos, pela carência do pai da moça e pelo belos olhos da protagonista, que se acabam em lágrimas pra dar lugar a um sorriso desconcertante.


A Viagem do Balão Vermelho, de Hou Hsiao-Hsien. (Le Voyage du Ballon Rouge, 2007)

É apenas um simples apartamento parisiense, onde vive uma simples mãe separada e seu filho, recebendo a visita de uma simples estudante de cinema taiwanesa. Ao redor de tudo isso, um simples balão vermelho cruza os céus da cidade, hora aparece e hora se esconde como se fosse o tema mais abstrato do filme, embora estivesse no próprio título. Mas quanta complexidade pode-se extrair de algo assim tão simples? Não posso negar que é preciso paciência, principalmente porque o ritmo é lento e as cenas são bastante mundanas. Mas basta entregar-se que o filme te leva a enxergar a vida desses personagens e os locais por onde passam. Confesso que é difícil até de descrever, mas por mais que alguém possa resistir, é impossível não se impressionar com a cena em que Binoche (sempre incrível) discute ao telefone, enquanto em volta dela milhares de outras coisas acontecem no apartamento.


Flertando - Aprendendo a viver, de John Duigan. (Flirting, 1991)

Último filme australiano do início da carreira de Nicole Kidman (que só voltaria a atuar no país por Moulin Rouge dez anos depois), ainda conta com três atores que chegariam também em Hollywood: Noah Taylor, Thandie Newton e Naomi Watts. Injustamente desconhecido por tanto tempo, o filme trata do relacionamento de um casal de adolescentes nos anos 60 vivendo num internato. Ambos tem problemas pra se identificarem com seus colegas e suas habitações ficam em lados opostos de um lago. Apesar do tema parecer batido, o que se destaca é a profundidade das personagens. Até Kidman, que vive uma típica garota esnobe do internato, parece dividida quando fica sabendo dos encontros entre os dois. Mas o grande momento do filme chega no esperado primeiro contato íntimo do casal, que acaba resolvido com um inspirado diálogo, inocente e bem humorado.


Priceless, de Pierre Salvadori. (Hors de Prix, 2006)

Só pra constar, o título pra esse filme aqui no Brasil foi "Amar... não tem preço" o que nem vale a pena discutir. O que não merece discussão também é o quão adorável pode ser Audrey Tatou, mesmo como uma mulher que vive procurando dar golpes do baú. Mas o filme vira uma estranha comédia romântica quando ela acaba desenganada pelo protagonista Jean, garçom do bar de um hotel. O roteiro chega a ser tão inventivo que quando a farsa é descoberta o filme transforma-se em uma série de jogos, que afastam e atraem os dois pelo resto da história. Ao invés de previsíveis conflitos entre o casal, os dois se relacionam de um forma inocente, que chega a ser agradável ainda que sempre ligada ao dinheiro e à luxúria. Gad Elmaleh encontra também um tom certo com seu Jean, unindo um jeitão atrapalhado e charmoso ao mesmo tempo.


Watchmen, de Zach Snyder. (Watchmen, 2009)

Aviso desde já que só vi a versão do diretor, que além da excelente cena do assassinato de Hollis apresenta pouca coisa inédita que enriqueça pra quem já leu os quadrinhos. Acho que apesar da obra original ser dos anos 80, sua adaptação nunca pareceu tão urgente quanto agora, depois de tantos filmes de heróis direcionados a um público adulto e envolvendo personagens mais complexos e ambíguos, como o Homem-Aranha e o mais recente Batman. O grande mérito de Snyder é tentar ser o mais modesto possível no tratamento da história, sem comprometer a visão primorosa de Alan Moore. Ainda que a lista extensa de personagens envolvendo duas gerações diferentes seja o maior dos obstáculos, Snyder mostra uma de suas soluções logo nos créditos de abertura, com uma colagem de vários dos momentos dos Minutemen ao som de Bob Dylan, que já leva grande parte dos fãs ao delírio. Depois disso, o filme nunca mais consegue rivalizar com essa solução tão interessante, chegando até a perder o ritmo no funeral do Comediante, onde cada um dos personagens tem um flashback pra compartilhar. Visualmente o diretor continua mostrando um olhar aprimorado ao lado do cinematógrafo Larry Fong, que mesmo com planos semelhantes aos quadrinhos são de encher os olhos. Uma pena que seu fascínio pelas cenas de ação em slow-motion continue sendo sua mania mais irritante. O que parece ter dividido mais opiniões foi a conclusão reescrita que tira o impacto pra quem eventualmente não conhece a original, mas que pra mim não deixa de ser competente também. Diria até que sua explicação é muito eficiente pra quem se contenta só com o filme. A única coisa que realmente me fez falta, removida infelizmente por falta de tempo, foram as demais cenas do interrogatório do sempre intrigante Rorschach. Valeria a pena investigar ainda se Ozymandias não é interpretado pelo Jorge Del Salto de Carrossel...

1 comentário:

Nelson Trombini Jr.
15/01/2010, 09:31
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Adorei essa comédia. De fato os créditos são muito mais que a cereja do bolo. Não sei se me identifiquei demais com a curtição ao extremo, mas tudo muito factível diante de uma noite entre amigos que se amam e já não se dispõem a curtir a vida juntos. Sem dúvida a melhor comédia do ano.