12.09.2007

Dexter suja as mãos

Dexter – Segunda Temporada

Assim como acontece com álbuns de música, prefiro sempre analisar seriados que são vendidos em pacotes fechados pelo seu todo na temporada. Foi assim com Weeds e Californication, e assim será com Dexter. Isso porque a temporada é planejada do começo ao fim e não existe influência de audiência ou a possibilidade de fazer testes no meio do caminho.
Para mim, atingir o nível de perfeição da primeira temporada era praticamente impossível, talvez para qualquer outro seriado, aliás. Meus comentários da estréia de Dexter, episódio por episódio, podem ser encontrados no blog "Comentários em Série", onde escrevia ao lado da Danielle Mística.
Essa temporada sophomore, como acontece com muitos artistas na música, é uma busca para tentar inovar e ao mesmo consolidar a sua qualidade. Os produtores de Dexter tentaram, mas mesmo com boas idéias, não conseguiram atingir a excelência, principalmente na forma de concluir a história.
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Os dois primeiros episódios já mostravam que dessa vez a personalidade de Dexter seria distorcida, mostrando sua fragilidade agora que era perseguido por Doakes, mas acima de tudo por sentir o temor humano quando suas vítimas são descobertas. Dexter conheceu a interessante personagem Lila, que tanto nos encontros dos Narcóticos Anônimos como fora dele, foi mostrando sua nova face (ou face original) sem precisar de suas máscaras para viver em sociedade.
O grande problema é que a perseguição ao Bay Harbor Butcher acabou estendo-se por toda a temporada, o que fez o fator imprevisão ir por terra, já que pelo menos até o final da temporada Dexter não seria preso. Além das formas como ele safava-se não terem sido das melhores, não víamos nenhum outro criminoso passando pelo distrito policial, o que sempre rendeu ótimas histórias na primeira temporada para Dexter e para todos os coadjuvantes.

Porém, a saga de Dexter (e do seriado) só parecia realmente ter chegado ao fim quando Doakes descobriu a identidade do serial killer, ao mesmo tempo que de forma providencial, foi considerado o principal suspeito dos assassinatos. Depois um embate nos pântanos, Dexter consegue aprisionar o sargento numa cabana e acaba caindo num dilema: não poderia matá-lo (por ser contra o Código) e não poderia soltá-lo. No próprio segundo livro, Dearly Devoted Dexter, enquanto está sendo perseguido pelo sargento, Dexter sintetiza a situação:

"No matter how necessary it seemed, Doakes was out of bounds for me. I could look out the window at the maroon Taurus nosed under a tree, but I could do nothing about it expect wish for some other solution to spontaneously arise – for example, a piano falling on his head. Sadly enough, I was left hoping for luck."
Pois é, no seriado o piano teve nome: Lila. Para fechar a temporada e retornar a vida de Dexter aos eixos, os roteiristas tiveram de apelar para uma situação risível de "intervenção divina". Ou seria diabólica? Enfim, o objetivo era chegar num final em que Dexter pudesse voltar às suas matanças costumazes e deixasse os espectadores com a consciência tranqüila para torcer pelo anti-herói. Para isso valeu até Lila colocar fogo em seu apartamento outra vez e tentar matar Dexter e as duas crianças.
Embora tivesse como sempre toques de genialidade (principalmente nos diálogos), é uma pena que o roteiro tenha sido em seu final tão sujo e desonesto. Para atingir a conclusão, os roteiristas fizeram um caminho reverso, em que todas as personagens deixaram de ter suas próprias vontades, e passaram a ser meras ferramentas a serviço do roteiro. Todo circular e completamente determinista.

Mas também não posso deixar de destacar o cárater técnico do seriado, com sua belíssima cinematografia quente de Miami, a direção precisa e cheia de nuances, e principalmente, a atuação de todo o elenco. Erik King atingiu gigantismo nessa temporada, com Doakes atingindo muitos níveis de preocupação social e moral, indo muito além do personagem raso que tinha anteriormente. Uma pena que foi morto e ainda acabou levando a culpa pelas atrocidades do BHB de forma vergonhosa.
E se parece que Dexter teve sua personalidade "zerada" no final da temporada, temo que pode ser bem pior, deixando diversas seqüelas graves para serem trabalhadas. Além da morte de Doakes, tenho medo dessa prepotência de Dexter em seu último monólogo, tomando para si o Código de seu mentor e ainda colocando-se acima do "bem e mal". Os flashbacks de Harry parece que estarão perdendo sua função daqui para frente e um dos grandes dilemas que foi levantado aqui, e que seria interessante numa temporada final, acabou sendo queimada definitivamente. Sim, porque acho que não tem nem razão de encontrarem outras das vítimas de Dexter e voltarem a perseguí-lo.
Espero que a terceira temporada de Dexter volte para apagar todos esses erros e garantir uma sinceridade maior com os espectadores, que tenham espaço para ter suas próprias conclusões e percepções sobre cada uma das ações de nosso anti-herói favorito.

Foto: Showtime/Divulgação.

2 comentários:

Ju!
10/12/2007, 14:51
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Bem, eu não achei tão ruim assim, Fuxxii de verdade. Acho que tem muito a ver com o que cada um espera quando vai ver a série, por isso algumas pessoas ficaram super decepcionadas com o finale. Mas eu não nego que poderia ter sido melhor.

E eu achei bem interessante o que você disse sobre o final, sobre o Dexter estar prepotente. Eu não tinha pensado nisso desse jeito, na verdade usei a palavra "seguro" na "review que fiz no meu blog mas acho que é um jeito de se ver as coisas. Eu devo ser meio psicopata porque na verdade fiquei bem empolgada com as futuras experimentações do Dex. Agora estou me sentindo meio culpada por não ter me preocupado nem um pouco com o fato de ele estar se botando acima do bem e do mal, mais do que nunca. Mas fazer o que, o personagem do Dexter me envolve de uma forma tal que mesmo vendo ele como montro diversas vezes, eu continua apaixonada por ele. Malditos roteiristas!

e.fuzii
11/12/2007, 10:20
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Pois é, Julia.
Desde que Dexter chegou no entrave de capturar Doakes, esperava que fossem dar alguma conclusão que pudéssemos pensar.
Mas depois de Lila provocar dois acidentes, um para matar Doakes e outro para matar duas crianças inocentes, não dá pra dizer que matar Lila era um ato "mau".
Aí, como a resposta era óbvia, achei no mínimo cínico da parte de Dexter e dos roteiritas fazer uma pergunta dessas para o espectador. Mas o pior mesmo seria pensar que Dexter não é nenhum dos dois, indo muito além disso, já que ele extermina o mal.
É uma discussão meio complicado, mesmo porque precisamos julgar a personagem, e não acho que isso seja muito correto.