Tropa de Elite, de José Padilha.
Tanta propaganda e tanta polêmica em cima de tão pouco, é essa a impressão que tive. Mas primeiro, devo dizer que o filme tecnicamente é impecável. A fotografia com câmera na mão, que aproxima o público da realidade na tela, e as atuações são o grande destaque. Principalmente Wagner Moura, que está perfeito na sua luta interior entre a razão e a emoção. A situação em sua casa faz um bom contraponto às barbaridades que ele protagoniza na pele do capitão, e reconheço que seus problemas já me comoveram desde o primeiro café-da-manhã. O conflito é interessante e quando a razão domina, ele torna-se opressor, exatamente a transformação que os membros do BOPE buscam em seu treinamento intensivo. Quando sua situação chega ao limite, o Cap. Nascimento é todo razão quando quase agride sua esposa, a ponto até de não precisar mais de seus remédios. E embora essa história de querer desistir da polícia (ou qualquer outra organização) seja visto freqüentemente, esse nem parece ser o tema principal do filme.
A grande discussão vem só com o final em que Mathias, o único ali que sempre acreditou no sistema, segura a arma na mão antes de executar o traficante Baiano, como se cada espectador estivesse ao seu lado. Quando se dispara, a conclusão que chego é que não há opção na polícia, ou se é corrompido pelo dinheiro, ou pela violência. É a constatação de que vivemos num ciclo cruel, uma verdadeira guerra em que bandido mata bandido. Mas, infelizmente, os mais desatentos acabam tomando o filme como uma mensagem fascista, mesmo que muitos deles nem saibam o que é isso. E nem preciso dar exemplos particulares, basta ler a carta aberta que Luciano Huck mandou para a Folha de S. Paulo, pedindo que o capitão Nascimento fosse buscar seu Rolex roubado.
Porém, é uma pena que a discussão seja rasa e até certo ponto óbvia. Afinal, a perversão humana tem uma discussão muito mais profunda (e universal) nos filmes de Lars von Triers, e os dilemas de matar o mal literalmente, estando dentro e fora da lei ao mesmo tempo, são melhores retratados no seriado Dexter, por exemplo. O que resta é a realidade esteriotipada (e não vou perder meu tempo discutindo isso) na ótica dos policiais, em que a classe média alienada só decide reclamar fazendo passeata, os estudantes da PUC são os "financiadores" da violência no tráfico e a ONG mais parece uma propaganda do próprio governo. E é com essa teimosia de todos os setores da sociedade que parece ser impossível esperar por um mundo melhor.
Foto:David Prichard.
1 comentário:
Unknown
26/10/2007, 11:15
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Faca na caveira Fuzii.
Mas ainda continuo acreditando na mensagem de que os playbas pagam a mercadoria que os traficas traficam, e as balas perdidas comem soltas por causa disso (assim como a corrupção).