9.14.2007

Night Falls Over Kortedala

Jens Lekman

Como é difícil falar de amor nos dias de hoje, não? Para os músicos então, depois da popularização do termo "emo", ficou praticamente impossível distanciar o romantismo da pieguice.
Dessa nova geração, um dos poucos que ainda conseguem transmitir esse sentimento difícil até de explicar em palavras é Jens Lekman. Suas histórias românticas, que caminham lado a lado com as letras dos também suecos The Magnetic Fields, são acima de tudo sinceras e carregam a confiança herdada de Morrissey.
Nesse álbum, Jens atinge um tom nostálgico, fazendo uma intensa retrospectiva dos anos 50-60-70, com uma coesão assustadora. No alto dos seus 26 anos, ele não viveu essa época, mas essa parece ser outra história para contar. Mesclando ritmos depressivos em violinos com o alegre Motown dos anos 60, Jens tem maturidade suficiente para rir por não ter outra forma de curar suas desilusões amorosas.
Começa pela bombástica "And I Remember Every Kiss", introduzindo o que se deve esperar do disco, "There will be no kisses tonight, no there will be no holding hands tonight” e evoluindo das explosões de trompas para a segunda faixa, "Sipping On The Sweet Nectar", uma música disco dos anos 70, que lembra muito as harmonias de Barry Manilow. Usando samplers de "By the Time I Get to Phoenix" (antes usado por The Avalanches em "Since I Left You"), Jens Lekman relembra doces momentos de sua vida, ao mesmo tempo que quase os rejeita, pela impossibilidade de mudança: “Last night I ran into my old life/still waiting for someone at the station/someone who never made it into my new life”.
À partir daí, já estamos contaminados por essa nostalgia, e seguimos até um tenso encontro com o pai de uma de suas namoradas, e as tentativas de interpretar suas expressões faciais na mesa de jantar em "A Postcard to Nina".
Mas o destaque mesmo fica para "Kanske Ar Jag Kar I Dig", praticamente um R'n'B dos anos 60 com doo-wops e tudo mais, que retrata o nervosismo de Jens ao encontrar uma garota. O (d)efeito da gagueira no meio da música é gênio. E tem talvez a frase que representa o disco: "The best way to touch your heart is to make an ass out of myself".
Com simplicidade e ironia de sua própria incapacidade, Jens está conformado, e sabe o quão patético soam as músicas que canta. Consigo até me imaginar aos 40 anos, sentado e sozinho, relembrando os bons momentos de minha vida, embalado pela trilha sonora de minha vida. Mas isso talvez soaria patético demais...

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